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A autora do blog é delegatária do registro público de Pessoas Naturais, de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas na Comarca de Içara/SC, desde 1993.

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Formar formadores: a difícil arte da docência


Uma vez ouvi de um cego uma estória engraçada, que, se não tivesse sido contada pelo próprio protagonista, eu diria facilmente tratar-se de uma piada.
Contou-nos ele que estava um dia em sua casa, no andar de baixo, enquanto sua esposa encontrava-se no andar superior. De repente, a campainha tocou. Sua esposa pediu-lhe para abri-la, já que se encontrava ocupada no andar de cima. Ele se dirigiu à porta, abriu-a e perguntou quem era. Como não houvesse resposta, ele fechou a porta, meio aborrecido, e retornou à sua poltrona, na sala. Mal ele se sentou, e a campainha tocou novamente. Sua mulher lhe gritou: "Ô fulano, você não abriu a porta???" Ele, resmungando, dirigiu-se novamente à porta, enquanto respondia à esposa: "Abri, mas ninguém disse nada!". Abriu a porta novamente, e, outra vez, obteve a mesma resposta ao perguntar quem era: silêncio. Desta vez ele fechou a porta com força e retornou à sua poltrona esbravejando "Droga de crianças, que não têm mais o que fazer do que ficarem tocando à porta de pessoas sérias!". E, mal sentou-se, aconteceu pela terceira vez: a campainha tocou. Desta vez sua esposa se adiantou e desceu de onde estava, queixando-se de não poder mesmo contar com ninguém naquela casa, que era ela para tudo, etc... E qual não foi sua surpresa ao descobrir, ao abrir a porta, que tratava-se de um surdo profundo vendendo o alfabeto de sinais!!!
Esta história nos faz pensar sobre várias coisas, mas gostaria de destacar uma em particular: a importância de uma educação rica e variada, através da qual aprenderíamos, entre outras coisas, a nos comunicarmos, de todas as formas possíveis. Se o surdo tivesse a iniciativa de falar com o resíduo vocal que, provavelmente, lhe restava, ou se o cego tivesse pensado em tentar tocar o que lhe estava à frente, talvez esta estória teria sido diferente. Mas... o que tudo isso tem a ver com a formação de formadores? Muito.
Cabe aos formadores (tradicionalmente conhecidos como professores), além da família, formar cidadãos, indivíduos com condições de tomarem iniciativas e de sobreviverem o mais independentemente possível em nossa sociedade. É no espaço escolar, em complementação ao familiar, que poderemos dar aos indivíduos condições de entrar em contato com outras formas de sobrevivência – formas mais sofisticadas, que vão além das básicas que aprendemos com a vida. Refiro-me à capacidade de criarmos uma ampla gama de alternativas a fim de que possamos escolher a mais apropriada solução para cada situação, e ainda dispormos de segundas e terceiras opções, caso necessitemos. A capacidade de construirmos essa rica variedade de alternativas é vivenciada principalmente com uma experiência escolar de qualidade.
Talvez os protagonistas dessa história não tenham tido esta rica educação. Talvez eles tenham vivido uma educação tradicional, que se preocupou em lhes passar conteúdos, mas esqueceu-se de associá-los à vida. Uma situação hilária e tão simples como essa, poderia ter tido vários outros desfechos, se tivéssemos reunidos ali cidadãos preparados para o inusitado. O mundo de hoje, mais do que nunca, nos requer isso. A questão que permanece é: até quando as "educações" oferecidas aos nossos indivíduos (deficientes ou não) continuarão segregando-os, oferecendo-lhes um ensino pautado apenas numa quantidade básica de conteúdos (esquecendo-se do processo de constituição de sujeitos históricos e políticos que uma educação de qualidade ajudaria a formar), na crença, infértil e preconceituosa, de que suas deficiências representam limites naturais ao desenvolvimento de um verdadeiro cidadão?
Mônica Pereira dos Santos, professora

(fonte: http://www.escoladegente.org.br/) acesso em 03/06/2009

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